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Foto por Nelson Garrido, in Público, 11 de Agosto de 2016
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Falar de “ordenamento florestal” ou de “limpeza de matas e florestas” em zonas de parque natural (e.g., Serra do Gerês, Serra da Estrela, Serra de Sintra, Floresta Laurisilva da Madeira, etc) é desconexo - não se ordena uma floresta selvagem, nem se "limpa" um bosque – são ecossistemas que se exige sejam, por definição, selvagem e biologicamente entregues a si mesmos e assim naturalmente preservados e sem intervenção humana. Mais ainda, é tido por muitos especialistas que, mesmo fora de floresta selvagem, a limpeza das matas é pura e simplesmente, um mito, como expresso, por exemplo, pelo Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles em entrevista a Alexandra Correia à revista Visão nº 545 de 14 Agosto de 2003.
Falar de militares ou, pior, de reclusos a combater incêndios é simplesmente ridiculo ou, pior, negligente. Os mesmo não têm qualquer formação ou competência neste âmbito e iriam apenas resultar em mais problemas (a ideia de que podem ser "geridos" ou "controlados" junto com outras forças - essas sim especializadas - é surreal). Mais ainda, a noção popular de que a extinção de um incêndio florestal se resume ao uso de muitos homens e de muita água a atacar muito rapidamente a frente do fogo é uma noção infantil e desprovida da mais elementar formação ou conhecimento do que é (i.e., do que deve ser) o combate moderno a incêndios florestais. Idem sobre a pseudo-panaceia dos meios aéreos.
“Last but not least”, a cobertura mediática feita dos incêndios em Portugal é simplesmente pornográfica e sem qualquer perspectiva formativa ou responsável. Cultiva-se o "gore" das imagens, o drama do choro e das palavras e expressões de pânico e fadiga, semeia-se o "cliché" e, pelo meio, serve de arma de arremesso político. Triste.