O livro de Desmond
Morris, “The Soccer Tribe” (“A Tribo do Futebol”), publicado em 1981, deveria
fazer parte do programa curricular das escolas de todos os Países que, como
Portugal, têm uma devoção massificada ao futebol.
Em traços gerais,
o autor, um prestigiado britânico, nascido em 1928, doutorado por Oxford em
1954, é um especialista em comportamento animal e humano que dedicou esta obra
a analisar, junto do mesmo País em que o futebol foi inventado em meados do
século XIX, a aproximação tribal (e mesmo animal) dos comportamentos e rituais
em torno do mesmo.
Em primeiro lugar
julgo da maior relevância recordar que a definição de desporto é uma actividade
física de âmbito competitivo. Em segundo lugar realçar que competição não é,
nem pode ser, rivalidade e muito menos violência (verbal ou física). E, em
terceiro lugar que o futebol, amador ou profissional, é apenas uma modalidade
desportiva.
No momento em que
o futebol é tratado fora deste âmbito e desta definição, estamos a falar de uma
outra coisa qualquer que distorce o primeiro ou que o transporta para algo que
nada tem, forçosamente, a ver com desporto (e, insisto, é isso que o futebol é).
O objectivo da competição não é derrotar o rival. É vencer a competição. E isto é muito mais do que semântica. São os princípios e as definições base que firmam o âmbito de uma coisa sã e não de algo diferente e colocada em patamares de hostilidade e violência - por razões que nada têm a ver com desporto. Nada.
Em concreto
quando um associado ou simpatizante de um qualquer Clube português exalta a derrota
de todo e qualquer outro Clube português, que não o seu, numa competição
internacional, ou no momento em que mais do que a vitória desejada do seu Clube,
deseja a derrota sistemática de todos os outros “rivais” (naquilo que, com orgulho,
muitos se apresentam como mais do que serem “fãs” –sim, vem de fanático – do seu
Clube são “anti-Clube-rival“) , estamos, como e muito bem o trata o livro de
Desmond Morris, num patamar de rivalidade tribal e de irracionalidade totalmente
incompatível com qualquer resquício de comportamento social(izante) e muito
menos de desportivismo. É, sem eufemismos, pura violência. E uma violência em
que se passa dos termos verbais aos termos físicos em menos de um ápice.
Temos assim,
apenas, e na sua forma mais vil, o desporto, no caso o futebol, a ser sistemática
e quotidianamente usado como arma de arremesso e da mais profundamente degradante
violência comportamental. E é isto, no contexto nacional, exacerbado de 3 jornais
“desportivos” diários, de canais “premium” de televisão dos Clubes, e de
milhentos programas televisivos de pseudo-debate, a que se chama o “desporto Rei” ou o “desporto
nacional”. Leiam o livro. Por favor. Isto assim não é desporto.
E, como nota
lateral, para que não me julguem alguns que possa eu ser um avesso ao desporto
ou que falo de futebol (ou da actividade desportiva em sentido lato) sem “experimentar”
ou sem “paixão", partilho que que sou atleta federado, de outra
modalidade, há década e meia, que sou dirigente associativo há quase uma década;
que acompanhei, nos últimos dois anos, como fotografo pro-bono e associado, uma
equipa nacional de cadetes de Ciclismo (estive presente, junto de atletas,
famílias, treinadores e staff, em duas Voltas a Portugal e inúmeras provas
nacionais e regionais); e que nos últimos meses assisti, no campo, e a minhas
expensas, a quatro jogos de futebol (três da I Liga e um distrital). Adoro
desporto e a sua comunidade. Quando de tal se trata. Abordagens tribais e
violentas? Não, obrigado!
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