7 Apr 2009

O nosso capital humano... sim nós mesmos s.f.f.

... quando, pelos idos de 1990, cursei ciência económica pela Nova em Campolide, registei (e recordo!), em particular, uma mão cheia de grandes noções que sempre me acompanharam desde então - no pensamento e na análise sobre o mercado e sobre o País (sejam eles quais forem) – (i) a importância do capital humano (na análise conhecida pelo “residual de Sollow” e afins); (ii) a importância dos activos reais (por detrimento de derivados e virtuais que premeiam apenas o risco acrescido e não a rentabilidade efectiva); e, acima de tudo, (iii) a utopia (dita simplificação de modelo) das preferências bem comportadas e informação disponível (vulgo e em adiantamento, existente e percebida) pelos agentes económicos.

No cenário actual, nacional e internacional, de “agravo económico” (será uma crise, uma depressão, uma recessão, um soluço, um arroto ou um vómito?), mesmo com informação disponível (nunca existiu tanta e tão acessível – i.e., sem custos e referente a experiências praticamente “ao dia”) as preferências dos agentes são (sempre foram e serão) toldadas, sem conspirações ou cabalas, por uma “doce” mistura de ganância e preguiça, temperada por inveja e individualismo.

E os agentes económicos, clamo e relevo, somos todos nós, todos!... o agente empresa, o agente banco e o agente Zé dos Anzóis ou Maria Lavadeira não existem no País das Maravilhas, somos todos nós. Normais e anormais (estatisticamente falando) -  é um conjunto de que todos fazemos parte e só por uma espécie de nojo ou catarse alguns insistem em fazer-se passar por distantes ou vítimas.

Tal como serviu de “mote”, nos idos de 1986, ao filme de Oliver Stone, Platoon: “a primeira baixa da guerra é a inocência”... ou, permitido o desvio vicentino, não é só mamar na teta doce (crédito ao consumo ao desbarato, novo riquismo, férias exóticas em terra de novela, ecrãs de plasma, telemóveis aos magotes...) – as rosas têm espinhos, sempre... e não há inocentes que possam efectivamente dizer que não sabiam dos ditos espinhos.

... quando nos idos de 2000 eu, anormal confesso e assumido, insitia em analisar taxas de juro fixas para crédito imobiliário como a (minha) primeira e mais segura opção e alertava para os riscos de produtos financeiros derivados ou mesmo simples acções (eram os tempo das bolhas de Silicon Valley... recordam-se?), era a modos que tratado como velho conservador e tacanho (tendo na altura menos de 30 anos, note-se).

E hoje? Pois... hoje temos o Banco de Portugal a ditar que os Bancos quando publicitarem uma conta genericamente descrita como “depósito” não podem estar a mascarar aplicacões em fundos e derivados; temos dois bancos nacionais falidos; tivemos já meses (inéditos?) de deflação; temos juros a caminhar para 1% - e a culpa é (sózinha, mesmo sózinha) dos Bancos? Sim, tal como a culpa de quem ficou sem dinheiro na Dona Branca foi apenas da dita e não – ora lá vamos nós – da ganância e inveja dos agentes que, mesmo tendo informação, formulam expectativas... anormais.

Tenham juízo. Não sejam gulosos. Sejam poupadinhos e não sejam preguiçosos s.f.f. . A crise somos nós. Todos, em toda a parte – a natureza primária e animal, invejosa e comodista, do ser humano. Só isso.

O capital humano – e não precisamos do Estado ou do Governo para tratar disso / de tudo – faz parte (deveria fazer parte) do nosso crescimento normal, i.e., o sermos “bem educados”, emocionalmente inteligentes, o não sermos “encarneirados em despesa e consumo”, o não termos problemas sociais (e ter a capacidade fria) de achar o futebol um disparate tribal e despesista, as novelas um delírio social e os reality shows um ópio popular... e sim... deixar de olhar para os acidentes na auto-estrada, agradecer ao empregado de mesa e ajudar um colega, sem interesses ocultos, mesmo fora das hora de serviço, chegar (sempre!) a horas, não passar o fim-de-semana a roncar no sofá e chorar-se que não tem tempo para nada, fazer melhor em vez de criticar os outros, etc... – isto é, no seu sentido mais lato, capital humano (muito além da formação escolar ou técnica!), e como, em equilibrio a poupança é igual ao investimento, o que se tem poupado nesta àrea tem ido, inexoravelmente, para outro sítio – os plasmas, os telemóveis, as férias no Brasil, os clamores do futebol, o carpir de mágoas no sofá...

 Quais crise! Vamos (todos!) trabalhar, acima de tudo e em primeiro lugar, em nós mesmos s.f.f.

 Obrigado.

1 comment:

jaime roriz said...

é o síndroma de cassandra. Falamos verdade e ninguém nos acredita.