... quando, pelos idos de 1990, cursei ciência económica pela Nova em Campolide, registei (e recordo!), em particular, uma mão cheia de grandes noções que sempre me acompanharam desde então - no pensamento e na análise sobre o mercado e sobre o País (sejam eles quais forem) – (i) a importância do capital humano (na análise conhecida pelo “residual de Sollow” e afins); (ii) a importância dos activos reais (por detrimento de derivados e virtuais que premeiam apenas o risco acrescido e não a rentabilidade efectiva); e, acima de tudo, (iii) a utopia (dita simplificação de modelo) das preferências bem comportadas e informação disponível (vulgo e em adiantamento, existente e percebida) pelos agentes económicos.
No cenário actual, nacional e internacional, de “agravo económico” (será uma crise, uma depressão, uma recessão, um soluço, um arroto ou um vómito?), mesmo com informação disponível (nunca existiu tanta e tão acessível – i.e., sem custos e referente a experiências praticamente “ao dia”) as preferências dos agentes são (sempre foram e serão) toldadas, sem conspirações ou cabalas, por uma “doce” mistura de ganância e preguiça, temperada por inveja e individualismo.
E os agentes económicos, clamo e relevo, somos todos nós, todos!... o agente empresa, o agente banco e o agente Zé dos Anzóis ou Maria Lavadeira não existem no País das Maravilhas, somos todos nós. Normais e anormais (estatisticamente falando) - é um conjunto de que todos fazemos parte e só por uma espécie de nojo ou catarse alguns insistem em fazer-se passar por distantes ou vítimas.
Tal como serviu de “mote”, nos idos de 1986, ao filme de Oliver Stone, Platoon: “a primeira baixa da guerra é a inocência”... ou, permitido o desvio vicentino, não é só mamar na teta doce (crédito ao consumo ao desbarato, novo riquismo, férias exóticas em terra de novela, ecrãs de plasma, telemóveis aos magotes...) – as rosas têm espinhos, sempre... e não há inocentes que possam efectivamente dizer que não sabiam dos ditos espinhos.
... quando nos idos de 2000 eu, anormal confesso e assumido, insitia em analisar taxas de juro fixas para crédito imobiliário como a (minha) primeira e mais segura opção e alertava para os riscos de produtos financeiros derivados ou mesmo simples acções (eram os tempo das bolhas de Silicon Valley... recordam-se?), era a modos que tratado como velho conservador e tacanho (tendo na altura menos de 30 anos, note-se).
E hoje? Pois... hoje temos o Banco de Portugal a ditar que os Bancos quando publicitarem uma conta genericamente descrita como “depósito” não podem estar a mascarar aplicacões em fundos e derivados; temos dois bancos nacionais falidos; tivemos já meses (inéditos?) de deflação; temos juros a caminhar para 1% - e a culpa é (sózinha, mesmo sózinha) dos Bancos? Sim, tal como a culpa de quem ficou sem dinheiro na Dona Branca foi apenas da dita e não – ora lá vamos nós – da ganância e inveja dos agentes que, mesmo tendo informação, formulam expectativas... anormais.
Tenham juízo. Não sejam gulosos. Sejam poupadinhos e não sejam preguiçosos s.f.f. . A crise somos nós. Todos, em toda a parte – a natureza primária e animal, invejosa e comodista, do ser humano. Só isso.
O capital humano – e não precisamos do Estado ou do Governo para tratar disso / de tudo – faz parte (deveria fazer parte) do nosso crescimento normal, i.e., o sermos “bem educados”, emocionalmente inteligentes, o não sermos “encarneirados em despesa e consumo”, o não termos problemas sociais (e ter a capacidade fria) de achar o futebol um disparate tribal e despesista, as novelas um delírio social e os reality shows um ópio popular... e sim... deixar de olhar para os acidentes na auto-estrada, agradecer ao empregado de mesa e ajudar um colega, sem interesses ocultos, mesmo fora das hora de serviço, chegar (sempre!) a horas, não passar o fim-de-semana a roncar no sofá e chorar-se que não tem tempo para nada, fazer melhor em vez de criticar os outros, etc... – isto é, no seu sentido mais lato, capital humano (muito além da formação escolar ou técnica!), e como, em equilibrio a poupança é igual ao investimento, o que se tem poupado nesta àrea tem ido, inexoravelmente, para outro sítio – os plasmas, os telemóveis, as férias no Brasil, os clamores do futebol, o carpir de mágoas no sofá...
Quais crise! Vamos (todos!) trabalhar, acima de tudo e em primeiro lugar, em nós mesmos s.f.f.
Obrigado.
1 comment:
é o síndroma de cassandra. Falamos verdade e ninguém nos acredita.
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