Teatro Nacional de Budapeste, Hungria |
Um accionista ao nomear um CEO deverá esperar do mesmo que lidere, que inspire, que motive e que se rodeie de uma equipa de CxO (por si constítuida e liderada) que assegure a satisfação e optimização dos recursos, objectivos e expectativas dos vários "stakeholders" da companhia - clientes, accionistas, colaboradores, fornecedores, parceiros. Se que para tal aconteça é necessário assumir como banal e esperado ciclos de trabalho de 14 horas, o micro-management de "tudo e mais alguma coisa" e uma evangelização do "workaholism"... algo de muito errado se passa na companhia e com quem a lidera. Trabalhar em "economia de guerra" tem de ser sazonal e (muito) justificado. A banalização da "economia de guerra" é um desastre - e isto parece-me ser um axioma.
Na verdade creio existirem duas grandes facções deste "culto do muito trabalho": (i) os que fazem de conta que trabalham muito, mascarando de actividades produtivas e profissionais actividades tão diversas quanto jantares e almoços tão frequentes quanto prolongados, spas e ginásios, regatas, golf e seminários de "trends"; e (ii) os que se ocupam muito, repetida e crescentemente, com infinitas tarefas - apenas porque não conseguem delegar, porque, na verdade, preferem estar no trabalho, debaixo de um argumento socialmente aceite, do que efectivamente enfrentar o vazio que têm (porque têm!) na sua vida pessoal, social e familiar. Ou seja, temos no primeiro grupo os "pançudos da boa vida" e no segundo os "frustrados da vida". E temos, claro, quem consiga combinar ou alternar as duas facções.
Gerir uma companhia, seja ao nível do CEO ou do mais reduzido chefe-de-equipa é apenas uma tarefa de afectação eficiente de recursos escassos, sendo o recurso mais escasso de todos o tempo. Adjective-se o tempo, como fazem, e bem, os especialistas sociais e comportamentais, como "tempo de qualidade" ("quality time") - e, axiomaticamente, não existe tal dimensão de qualidade numa jornada de 14 horas, em mensagens trocadas de madrugada e em outros disparates de pseudo-stress.
Digo e repito, nos mais variados contextos em que exerci e exerço funções executivas, que alguém ter de trabalhar 14 horas sistematicamente, ou ter de estar "online" 24x7x365, apenas indica uma coisa - que algures, em si mesmo ou na organização em que se insere, algo, de sério e grave, não está a ser acautelado. Mas, a meu ver, o problema é mais sério do que a "mera" afectação de recursos ou gestão do tempo. É a desculpa social para um problema grave - do afastamento das pessoas de si mesmas, da qualidade de vida real e da permuta disto por uma palermice obsessiva-compulsiva, agarrados a Blackberrys e a gabaram-se de quem envia a mensagem mais tarde ou de qual esteve em mais reuniões no mesmo dia. Curiosamente ouve-se mais sobre estas métricas (de pseudo-esforço) do que efectivamente de coisas como crescimento efectivo (activos reais, valor acrescentado real), motivação dos colaboradores, inovação, desenvolvimento sustentado!
Tratem-se. Organizem-se. Vivam.
1 comment:
Excelente visão de um problema real que, infelizmente, é transversal a toda a cadeia de valor, quer empresarial, quer mesmo social. Se fossem só os CEO's ou os executivos...
Parabéns pelo texto.
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